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Centenário da Grande Guerra 1914-1918

Site: Agrupamento de Escolas de São Gonçalo
Disciplina: Biblioteca da EB 2,3 de Freiria
Livro: Centenário da Grande Guerra 1914-1918
Impresso por: Visitante
Data: Quinta, 21 Novembro 2024, 15:46

1 Rivalidades e tensões muito fortes

A primeira guerra é uma das páginas mais sombrias da História. Apelidada a Grande Guerra, durou quatro anos, de agosto 1914 a novembro de 1918 e envolveu os países do mundo inteiro.

Nesta plataforma, a Biblioteca irá publicar um conjunto de textos sobre este conflito que te permitirão conhecer melhor esta guerra, onde os teus antepassados combateram.

Desde a vitória alemã de 1871 e a perda do território de Alsácia-Lorena imposto pelo tratado de Francfort, a rivalidade entre franceses e alemães está ao máximo. Na véspera da 1ª guerra mundial, a Alemanha aumenta os seus efetivos militares e moderniza a sua frota de guerra. Em resposta a França aumenta a duração do serviço militar para três anos.

Formação de alianças

No início do século XX, cinco países dominam a Europa: a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Rússia. A paz que parece reinar no continente esconde muitas tensões existentes entre estes poderosos países. Alguns desses países, como por exemplo a Grã-Bretanha, possuem um vasto império colonial, desejado por outros como a Alemanha que muito gostaria de ter uma fatia deste bolo. Obviamente que a Grã-Bretanha não partilhava a mesma opinião. Do lado do império austro-húngaro e da Rússia existe um conflito de interesses pelos territórios das Balcãs.

Estas rivalidades, às quais se juntam um forte espirito nacionalista, empurraram os países da Europa a armarem-se e a formar alianças. De um dos lados, a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália formaram a Tríplice-aliance. Do outro lado, a Rússia, a França e a Grã-Bretanha formam a tríplice-entente.

O atentado de Sarajevo

A 28 de julho, um acontecimento vem incendiar os ânimos: o arquiduque Francisco-Fernando, herdeiro do trono Austro-húngaro e a sua mulher são assassinados, em Sarajevo (capital da Bósnia-Herzegovina, território anexado pelos Austro-húngaros). O autor deste atentado é um jovem bósnio de origem servia.

Apoiada pela Alemanha, a Áustria-Hungria acusa a Sérvia de ter organizado o atentado e declara-lhe guerra. Aliada da Sérvia, a Rússia mobiliza o seu exército… Em algumas semanas, o jogo das alianças mergulha a maior parte dos Estados europeus na guerra.

 

 

2 Antecedentes da guerra

Começou há 100 anos, em 1914, aquela que se tornaria na guerra mais sangrenta e devastadora de toda a história: a 1ª Guerra Mundial, conhecida por Grande Guerra.

Uma guerra que matou mais de 10 milhões de pessoas, soldados sobretudo, e que arruinou regiões e países inteiros.

 

 

Antecedentes da guerra

Sabes porque é que, em 1914, os países europeus entraram em guerra?

28 de junho: assassinato do Arquiduque Francisco

 

A 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco-Fernando, herdeiro do trono do império Austro-húngaro, e sua esposa são assassinados em Sarajevo, capital da Bósnia (território integrado na Austro-Hungria). Como o assassino era um jovem sérvio, o governo Austro-húngaro acusa a Sérvia de ter organizado o assassínio e de constituir uma ameaça, acabando por declarar-lhe guerra. Aliada da Sérvia, a Rússia mobiliza o seu exército, e ao fim de algumas semanas, através de várias estratégias de alianças, a maior parte dos países europeus encontra-se em guerra.

 

Porquê esta guerra?

Na realidade, tudo não passou de um pretexto. Não houve uma razão única para a entrada da Europa em guerra. Há já alguns anos que os países europeus se opunham e desconfiavam uns dos outros: a Alemanha tinha inveja das riquezas da Inglaterra e da França no estrangeiro e o império Austro-Húngaro e a Rússia disputavam os territórios dos Balcãs.

 

 

Tríplice-Aliance ou tríplice-entente

 

Estas rivalidades levaram os países europeus a organizarem-se em poderosas alianças: de um lado a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália formam a tripla-aliança; do outro, a França, a Rússia e a Inglaterra formam o tríplice-entente.

 

 

 

Sentimento de vingança: um outro motivo para a guerra?

 

Quarenta e quatro anos antes, a França e a Alemanha já se tinham enfrentado na guerra de 1870. Nessa ocasião, os franceses saíram derrotados do conflito e perderam o território de Alsace-Lorraine, permanecendo nalguns o orgulho ferido. É o que se chama de espírito de vingança, por parte dos governos.

 

Uma guerra que ninguém quer…

 

A maioria da população deseja a paz e em 1914 eram poucos os franceses que se lembravam desse conflito e queriam recuperar aquele território.

 

… mas que todos aceitam

 

Assim que a guerra foi declarada em França, a 1 de agosto, deu-se a ordem de mobilização geral e todos os homens dos 20 aos 45 anos se alistaram, acreditando estarem a cumprir um dever e proteger a pátria.

Além disso, no início ainda se pensava que a guerra seria breve. Que engano!

3 Quatro longos anos de conflito

Quatro longos anos de conflitos

Quando foi decretada a mobilização, os franceses estavam divididos entre a consternação e o entusiasmo. Os soldados, inicialmente persuadidos da curta duração da guerra, estão longe de imaginar que irão enfrentar quatro longos anos de conflito.

Para os alemães, esta era uma guerra inevitável. Desde o início do século XX que uma parte da população alemã considera a guerra uma forma de defender os interesses do país face ao que achavam ser uma ameaça por parte da França, Inglaterra e Rússia.

Plano XVII

Em setembro de 1914, o exército francês inicia a sua marcha tendo em mente um único objetivo: a ofensiva. O plano era libertar a zona de Alsace (anexada pela Alemanha desde 1870) e a partir daqui prosseguir até à Alemanha, se possível até Berlin. Mas nada se passou como previsto, em Alsace, os franceses encontram uma forte resistência por parte dos alemães que os obrigam a recuar. O plano é um fracasso e provoca duras baixas.

… contra plano Schlieffen

O exército alemão combate em duas frentes, uma a Este e outra a Oeste. Na frente Este, tenta impedir as tropas russas de progredirem. Na frente Oeste aplica o plano Schlieffen para derrotar rapidamente o exército francês. Este plano audacioso previa contornar o exército francês pela Bélgica, pais neutro. No início do mês de setembro de 1914, as tropas alemãs estão a menos de 40km de Paris.

Na capital francesa todos se preparam para o cerco, quando o exército franco-britânico, dirigido pelo marechal Joffre, consegue lançar o contra ataque: a batalha do Marne (5-9 de setembro) é uma vitória inesperada para os franceses. O plano Schlieffen foi um fracasso.

 

 

Os táxis do Marne

Já ouviste falar do episódio dos táxis do Marne? Para ajudar os soldados que estavam a combater, o general Gallieni requisita centenas de táxis para transportarem os novos soldados para a frente da guerra.

Graças a este gesto, os soldados que estavam na batalha do Marne ganharam novo animo.

Da guerra de movimento

Apesar dos sucessivos fracassos, os exércitos continuam com as suas ofensivas. É a chamada guerra de movimento. Os exércitos tentam deslocar-se até chegarem ao Mar do Norte, obrigando a frente de guerra a deslocar-se. Mas também esta tática resulta infrutífera para ambos os lados. Esgotados os exércitos franco-britânico e alemão acabam por se debaterem numa frente imóvel de 720Km entre a Suíça e o Mar do Norte: é o início da guerra de posição.

A partir deste momento, os soldados começam a ter a perceção de que a guerra será mais longa do que o que tinham imaginado.

… à guerra de posição

A guerra de posição ou guerra de trincheiras mantem os soldados em posição nos seus locais, afastando-se dos primeiros planos de guerra. Durante quatro anos, são perpetuados enormes esforços para furar as linhas inimigas, mas até 1918, a maior parte dos planos dos exércitos resultam fracassados.

De uma ofensiva a outra

As grandes ofensivas interrompem o quotidiano dos combatentes. Em 1915, o exército francês organiza várias ofensivas, sem sucesso, em Artois e Champagne a fim de deslocar a frente do alemão. Em 1916, batalhas como a de Verdun ou a de Somme duram meses e são devastadoras.

      Algumas grandes batalhas

A batalha de Somme (julho-novembro, na Picardia, opõe o exército franco-britânico ao alemão. Logo no 1º dia de combate, os ingleses contam com cerca de 20 mil baixas, um triste record. Esta batalha que conseguiu enfraquecer os alemães, tornou-se numa das mais mortíferas.

 

Em fevereiro de 1916, o general alemão Falkenhayn decide massacrar o adversário, atacando a praça-forte de Verdun. Após um violento bombardeamento, a resistência francesa organiza-se e, num espaço de 2m2 , tem início uma batalha de apropriação que durará 10 meses, até dezembro de 1916. Num cenário praticamente lunar, transformado pelas explosões, as trincheiras desapareceram. Os homens vivem em buracos improvisados. A única estrada, por detrás das linhas francesas, permite o itinerário de 3000 veículos, dia e noite, para transporte de homens e material, é a chamada “Via sagrada”. Resultado da batalha: Verdun permanece nas mãos dos franceses mas conta com 160 000 mortos e a Alemanha com 140 000.

Inicialmente restrita às grandes potências europeias, o conflito envolve rapidamente numerosos países que se organizam do lado da tríplice-alliance ou da tríplice-entente. A guerra torna-se mundial.

 

 

 

 

4 As grandes batalhas

Em agosto de 1914, os exércitos das grandes potências europeias precipitam-se para as suas fronteiras e disputam uma forma de guerra que ficou conhecida por “guerra de movimento”. Para a Entente, os acontecimentos da guerra começam mal: tal como aconteceu com os Russos, em Tannenberg, os Franceses são batidos pelos alemães na batalha de fronteiras. O governo francês é obrigado a deixar Paris e recuar até Bordéus.

1914: a França é salva na batalha do Marne

Data: 5 a 12 de setembro 1914

Local: entre Paris e Verdun

Exércitos: Alemanha contra França e Inglaterra

Em setembro de 1914, a situação inverte-se. Para tomar Paris, o exército alemão persegue o exército francês no interior do país, a situação é tão grave que o governo francês decide deslocar-se mais para sul, para Bordéus. De forma completamente inesperada, o general Joffre manda o exército dar a volta e contra atracar. Esta decisão obriga os alemães a recuarem, na célebre batalha do Marne. Pela mesma altura, os russos conhecem alguns sucessos militares. A Entente parece estar a conseguir alcançar a vitória. Mas nada é linear…

Curiosidades: Para transportar os soldados franceses e ingleses e assim reforçar o exército no campo de batalha, o general Gallieni pediu ajuda a todos os taxistas parisienses. Por solidariedade, todos aceitam fazer o transporte dos soldados até à frente de batalha. São “os táxis do Marne”.

Balanço: cerca de 50 000 mortos, vitória dos exércitos franco-inglês.

“Corrida para o mar”

Ao fim de alguns dias, os alemães deixam de recuar e os franceses não conseguem penetrar nas suas linhas. Como o avanço alemão estagnou, os oponentes tentaram flanquear-se continuamente um ao outro por todo o nordeste da França. Esse processo levou as forças de volta às posições costeiras do Mar do Norte, na Bélgica ocidental. Em novembro de 1914, o litoral belga foi alcançado, pondo fim à corrida para o mar. A frente de batalha tem agora 750 km, da costa belga do mar do norte até à Suíça.

 

1915: impasse nas trincheiras

Uma vez estabelecida a frente de batalha, esta manteve-se praticamente inalterável. Para os soldados que vivem nas trincheiras, estes três anos alternam períodos de calma, onde na retaguarda, nas fábricas,  se reforça a artilharia, com ataques violentos e muito mortíferos. De cada vez que algum comando pensa ter descoberto a forma de furar a frente inimiga e com isso ganhar a guerra, esta fracassa sempre. A guerra de trincheiras parece não ter fim.

1916: Verdun e Somme

Em 1916, apesar das tentativas fracassadas dos anos anteriores, os chefes militares continuam a guerra de desgaste. Em França, desencadeiam-se duas grandes batalhas: os alemães atacam os franceses em Verdun, em fevereiro, e são depois atacados pelos ingleses em Somme, em julho.

Batalha de Verdun

Data: de 21 de fevereiro a 19 de dezembro de 1916

Local: Verdun (nordeste da França)

Exércitos: Alemanha contra a França

Principais comandantes: Pétain (França) e Falkenhayn (Alemanha)

Fevereiro de 1916, o general alemão Falkenhayn decide “levar o couro e o cabelo” do exército francês, atacando-o na sua fortaleza em Verdun. Após um violento bombardeamento alemão, a resistência francesa organiza-se e, num espaço de alguns quilómetros quadrados, começa uma batalha de desgaste que durará dez meses.

Curiosidades: Os bombardeamentos são tão fortes e frequentes que as trincheiras desaparecem totalmente. Os homens são obrigados a esconderem-se em buracos improvisados. A “Via sagrada”, única estrada que continua intacta permite o transporte de homens e munições dia e noite.

Balanço: cerca de 306 000 mortos, vitória do exército francês.

 

Batalha de Somme

Data: de 1 de julho a 18 novembro de 1916

Local: Picardia (norte de França)

Exércitos: Alemanha contra a França, Inglaterra, Austrália, Canada, Nova-Zelândia

Principais comandantes: Foch (França), Haigh (Inglaterra), Von Below (Alemanha)

Franceses e ingleses decidem atacar em conjunto o exército alemão em Somme. No entanto, a maioria dos soldados franceses estava a combater em Verdun… Os ingleses em superioridade numérica lançam a ofensiva contra o exército alemão, mas estão mal preparados. A batalha vai durar vários meses sem que ninguém a ganhe.

Curiosidades: Fala-se muitas vezes da batalha de Verdun por ter provocado inúmeras baixas, mas na realidade esta foi mais mortífera. Logo no primeiro dia, os ingleses contavam já com 20 000 homens mortos e 40 000 feridos.

Balanço: vitória indefinida

Apesar das muitas mortes causadas por estas duas batalhas, os resultados não foram decisivos e ninguém saiu vitorioso.

 

1917: “Chemin des dames”

Data: de 16 de abril a 24 de outubro de 1917

Local: Entre Soissons e Reims (norte de França)

Exércitos: Alemanha contra a França

Principais comandantes: Nivelle (França), Ludendorff (Alemanha)

Em 1917, o general Nivelle pensa ter descoberto uma forma de ganhar a guerra e dá novas esperanças aos soldados. “L’heure est venue, confiance, courage et vive la France”, dizia o general aos seus soldados quando iniciou a ofensiva às tropas alemãs, a 16 de abril de 1917, no “Chemin des dames”. Mas o seu plano traduz-se num enorme desastre para o exército francês, a tal ponto que Nivelle adquiriu o cognome de “carniceiro”. Desta vez, até os soldados mais corajosos não suportando mais esta guerra começam a revoltarem-se e recusam voltar a combater. É neste contexto de desobediência coletiva que Pétain, nomeado generalíssimo, substitui Nivelle, a 10 de maio de 1917. Pétain não hesita em mandar fuzilar os mentores desta revolta, mas em contrapartida promete que não voltarão a ser enviados soldados para a frente de combate a troco de nada. Prefere esperar a chegada dos tanques (carros de guerra), uma nova invenção muito aguardada e a entrada dos americanos na guerra.

Balanço: cerca de 200 000 mortos. Vitória alemã.

Com todas estas mudanças, o ano de 1918 será decisivo e verá a guerra chegar ao fim.

5 Uma guerra mundial

Abertura de novas frentes

A oeste, o conflito está confinado às trincheiras. A Este não há movimentos decisivos. Em outubro de 1914, o Império otomano (atual Turquia) entra na guerra ao lado dos alemães e abre novas frentes, nomeadamente no Médio-oriente onde os Árabes se revoltam.

Em março de 1915, as tropas australianas e neozelandesas, aliadas à tríplice-entente, penetram o território do Império otomano. Está aberta a frente Balcãs. Quanto à Itália, esta decide romper a aliança e abre uma nova frente com a Áustria-Hungria. Em 1916, Portugal entra no conflito ao lado dos Aliados. A entrada na guerra dos Estados Unidos, a 6 de abril de 1917, marca uma viragem nos acontecimentos da guerra mundial.

Participação das colónias

Pouco a pouco a guerra estende-se aos impérios coloniais. A Inglaterra recorre às suas colónias e territórios para se apropriar das possessões alemãs. Desde 1914, as Ilhas Samoa, as ilhas do arquipélago Bismarck e a Nova Guiné alemã foram tomadas pela Austrália e a Nova Zelândia. O Japão, aliado dos ingleses, ocupa a base naval alemã de Ts'ing-tao, na China e mais tarde as ilhas Marshall, carolinas e marianas. Em julho de 1915, a África do Sul alemã, atual Namíbia, é controlada pelas tropas sul-africanas, aliadas dos ingleses. Na África ocidental, no Togo e nos Camarões, as colónias alemãs são atacadas pelos franceses e ingleses que se apropriam destes territórios. Para reforçar os combates, a França faz chegar mais de 400 000 combatentes, oriundos da sua colónia de África Negra (Senegal) e do Magreb (norte de África). De Madagáscar e Indochina, também chegam soldados. A Inglaterra contribui com soldados vindos das suas colónias (Canadá, Austrália, Nova-Zelândia, África do Sul, Índia…)

 

 

Agosto de 1914, a União sul-africana declara guerra à Alemanha, que ocupava desde 1884 a atual Namíbia.

Um conflito mundial

Em abril de 1915, as tropas francesas e inglesas, que tentam alcançar a Rússia, são batidas no estreito de Dardanelos e na península de Galipoli, atual Turquia. No médio-oriente, os ingleses defrontam o império otomano, em Bagdad, em março de 1917, e em Jerusalém, a dezembro de 1917.

O presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, declara guerra ao império alemão em 1917. 

Neste cartaz criado em 1917 para encorajar os soldados americanos a entrarem na guerra, o tio Sam, símbolo nacional dos Estados-Unidos, diz: “Eu quero-vos no exército americano. 

A guerra estende-se ao oceano

O mar é a via natural que leva o conflito à mundialização. Na sequência da batalha de Jutland, em maio de 1916, no largo da Dinamarca (a maior batalha naval), a frota alemã não pode ficar refém da britânica que lhe impõe um bloqueio marítimo. Assim, em reação a este bloqueio, a Alemanha põe em andamento uma gigantesca guerra submarina.

6 A vida nas trincheiras

De modo a enfrentar as condições de vida extremamente dificeis, os soldados são forçados a organizarem  o seu quotidiano nas trincheiras.

Exércitos escondidos nas trincheiras

No início da guerra, para se protegerem, os soldados cavam buracos que, desde o outono de 1914, se tornaram verdadeiras trincheiras cujos percursos aparentemente isolados se ligam uns aos outros, em ziguezague para que os homens possam se dispersar e evitar os tiros das metralhadoras.

As trincheiras alemãs são construídas de forma mais sólida, com betão e chapa de metal, pois as tropas queriam conservar as suas posições. Do lado oposto, as trincheiras são em madeira porque ninguém contava ficar muito tempo por ali.

Ao frio e na lama

A guerra de trincheira é desesperante: no inverno, a temperatura pode descer até -20º, a chuva transforma a terra em lama e os parasitas colam-se ao corpo dos soldados. As condições de higiene são fracas, os soldados lavam-se com a água que corre nas trincheiras e mal podem se barbear.

Uma cozinha muito rudimentar

Para além do frio e de viverem em más condições, os soldados comem pouco e mal. Todos os dias, os “homens da sopa” vão buscar a comida na retaguarda da frente, onde estão instaladas as cantinas. Se inicialmente a comida está quente, com o tempo de percorrer todos os inúmeros corredores da trincheira para chegar aos soldados, esta arrefece completamente. O menu é pouco variado: sopa de arroz ou de ervilha, feijão, caldo…

A vida retoma o seu curso

Apesar das discussões e das dificuldades de higiene, existe um espirito de camaradagem entre os soldados muito forte. Os homens são solidários e procuram por todos os meios melhorar o seu quotidiano. Uma das suas ocupações ficou conhecida como artesanato das trincheiras -com os diferentes materiais que conseguiam recuperar na frente, os soldados construíam todo o tipo de objetos. Às vezes os soldados têm direito a assistir a uma peça de teatro e esquecer assim a guerra. Os ingleses divertem-se a jogar à bola e a organizar alguns espetáculos. Com o tempo, a vida nas trincheiras começa a organizar-se e as licenças para visitar a família amenizam a vida destes soldados.

    Trincheiras: um modo de vida

 

As trincheiras têm um traçado sinuoso para que os soldados consigam evitar os tiros dos inimigos. Na primeira linha encontram-se os postos de observação e onde são posicionadas as carreiras de tiro. Um vasto espaço sem vida, chamado no man’s land , destruído pelos buracos dos obuses  e coberto de arame farpado, separa a trincheira das primeiras linhas inimigas.

Nas linhas mais recuadas estão os postes de comunicação, as reservas de munições, a artilheria, as cozinhas, etc. A guerra de trincheira é desesperante: as condições climatéricas são muito duras, a chuva transforma a terra em lama e os parasitas são uma presença incómoda.

Abaixo a guerra

 

Entre maio e junho de 1917, as revoltas contra esta guerra sucedem-se sob a forma de deserções, manifestações e petições. Os motinados, esgotados pelo esforço da guerra, desobedecem aos seus superiores e gritam: “Abaixo a guerra!”. Estão cansados das ofensivas assassinas e inúteis impostas pelos seus superiores. Na frente da guerra, basta levantar a mão por cima do parapeito, provocando o inimigo para se ser ferido. Outros procuram adoecer, engolindo todo o tipo de produtos, como por exemplo, petróleo. Muitos destes motinados são fuzilados, para dar o exemplo e desencorajar os outros.

 

Viver a todo o custo

Os soldados partilham um objetivo comum: permanecerem vivos. Enquanto se espera alguma alteração longe da frente de guerra, improvisam-se tréguas entre as linhas inimigas. Correndo o risco de serem severamente punidos, alguns preferem desertar ou deixarem-se ferir para serem evacuados. O crime de desobediência é punido com a vida.

 

 

 

7 As novas tecnologias ao serviço da guerra

Perante o perigo e a necessidade de se defenderem, os países em guerra mobilizam a indústria para fabricar novos equipamentos. Quem diria que uma guerra tão trágica fosse uma fonte para o progresso!

As armas aperfeiçoam-se

Antes da guerra, os países europeus lançam-se numa corrida ao armamento. As fábricas produzem armas mais eficazes: maior distância de tiro, mais rapidez, maior precisão, eis o que se pretende das armas de guerra.

A guerra na origem do progresso

Os exércitos aperfeiçoam-se e adaptam estratégias, armamento e equipamento. Os diferentes peritos militares, cientistas e industriais trabalham na inovação tecnológica. Alguns uniformes são melhorados, os submarinos são modernizados, os lança-chamas e os tanques fazem a sua primeira aparição nos campos de batalha.

Conscientes do potencial dos tanques, os ingleses desenvolvem, em 1915, um programa cujo nome de código “tank” significa cisterna, devido ao seu enorme depósito. Lento, pesado e equipado com uma metralhadora, só quase no final da guerra é que alguns tanques mais fiáveis como os Mark IV e os Renault FT-17 são introduzidos nas estratégias militares.

A guerra química

Os gases de combate, ainda que interditos, depressa despertam o interesse de todos os países. Em 1915, os alemães utilizam, pela primeira vez, o gaz de combate. O manuseamento deste tipo de gaz é muito complexo, pois basta o vento mudar de direção para que a própria trincheira seja atingida pelo seu gaz. Para se protegerem, os soldados usavam inicialmente máscaras. O novo gaz, o gaz mostarda, lançado pelo exército alemão, em 1917,tornou obsoletas estas máscaras e provocava queimaduras atrozes.

 

Os aviões levantam asas

A aviação moderniza-se e torna-se imprescindível na estratégia militar para conhecer melhor a posição dos adversários. Franceses e ingleses utilizam os aviões para fazerem a cartografia fotográfica e os alemães, os dirigíveis Zepelins.

Em 1914, a aviação é ainda muito recente, o primeiro voo experimental tinha sido em 1903, pelos irmãos Whright. A grande guerra vai dar à aviação um novo impulso…as suas missões evoluem: observação, artilheria, fotografia aérea, bombardeamento e perseguição. Alguns dos pilotos desses aviões tornam-se lendas… 

Apelidado “Barão vermelho” devido à cor do seu avião, Manfred von Richthofen (1892-1918) é uma lenda da aviação. Glorificado com 80 vitórias, morreu em missão em abril de 1918.

A medicina ao serviço dos feridos

Durante a Grande Guerra, a medicina faz progressos verdadeiramente notáveis ao nível da antissepsia, radiologia, anestesia, transfusão sanguínea, próteses e cirurgia de reconstrução.

8 A vida longe da frente da guerra

 

Enquanto os soldados estão na frente, a vida contínua difícil para os que estão na retaguarda, nas cidades ou no campo.

A guerra, tão longe e tão próxima

A guerra também se faz na retaguarda, longe da frente de batalha.

Face ao perigo os partidos começam uma campanha de propaganda: a imprensa só pode transmitir os comunicados do exército e toda a informação contrária à guerra é proibida. Esta prática de limpeza cerebral escondia os horrores da guerra e difundia falsas informações sobre os avanços da guerra. A guerra está sempre presente na vida das pessoas, quer pelos bombardeamentos aos civis, quer nas cantigas, nos filmes ou no teatro. Os familiares e amigos dos soldados enviam encomendas ou recebem os refugiados. No entanto, perante a duração do conflito, a população recomeça pouco a pouco a divertir-se, o que leva os soldados da frente a pensarem que foram esquecidos.

Uma economia de guerra                                          

Atingida pela guerra, as indústrias são convertidas para produzirem armas, munições e tudo o que diz respeito ao consumo dos exércitos (trigo, carvão, uniformes, capacetes, rações alimentares, etc.). A mobilização esvaziou os campos dos seus agricultores e as fábricas dos seus operários. Alguns soldados são enviados para as fábricas para trabalharem. Depois, as mulheres, as crianças, os feridos, os prisioneiros e os habitantes das colónias são chamados para contribuírem para o esforço de guerra.

As mulheres vestem os fatos de trabalho dos maridos e vão para as fábricas. Vê-las a fabricar armamento e a conduzir camiões não era prática habitual no início do século XX.

Da redistribuição à penúria

Com o decorrer do conflito, começa a haver falta de recursos (alimentos, carvão, etc) destinados essencialmente ao exército e que deixam as populações na penúria.

A distribuição destes bens, em França e na Inglaterra, evita tensões sociais junto destes dois países. Em contrapartida, a Alemanha torna-se vítima de uma crise de alimentação, inflacionada pela subida de preços. Também a Áustria-Hungria e a Rússia têm dificuldades em alimentar as populações. As tensões enfraquecem os regimes já de si esgotados pela duração da guerra.

9 O início do fim

Em 1917, os exércitos estão exaustos, a população não suporta mais as dificuldades económicas impostas pela guerra e a moral da Europa está nos seus limites.

1917, ano de todas as mudanças

 A Oeste, durante a primavera de 1917, uma vaga de greves e rebeliões acontece nos dois lados da guerra. Junto da população, muitas vozes se levantam contra o conflito. Quando começam a constatar que as grandes ofensivas de 1916 (em Verdun e Somme) traduziram-se num grande insucesso, algumas pessoas começam a pensar que a guerra não pode ser ganha militarmente. Outros pensam que a entrada na guerra por parte dos Estados Unidos, a 6 de abril de 1917, anuncia a vitória.

A Este, a Rússia sente-se desencorajada com as restrições e o aumento dos preços. Em outubro de 1917, Lenine (partido comunista) desencadeia uma revolução para tomar o poder. Ameaçado pela guerra civil, Lenine vê-se forçado a assinar um tratado de paz com a Alemanha. O tratado de Brest-Litovsk, assinado a 3 de março de 1918, põe fim aos combates na frente Este.

1918, ano decisivo

Após a assinatura de paz germano-Rússia, a Alemanha pode virar-se para a frente Oeste e preparar a sua ofensiva, antes que os americanos cheguem. Os ataques sucedem-se, mas os alemães não conseguem fazer face à superioridade do inimigo.

 

10 A última das últimas

A guerra vai finalmente terminar. Convencidos que tal atrocidade não pode voltar a acontecer, os franceses apelidaram esta guerra de “La der des ders”, a última para todo o sempre.

Fim da guerra

Em outubro de 1918,a frente balcânica colapsa. A Alemanha não consegue acalmar o descontentamento popular, a revolta ameaça o poder.

A 1 de novembro, um motim junto dos marinheiros alemães faz temer uma guerra civil. A 9 de novembro, o imperador Guilherme II abdica e foge para a Holanda. A 11 de novembro, os alemães assinam o armistício: às 11h o combate termina.

O tratado de Versalhes

Vinte sete nações participam na elaboração das condições de paz, mas são sobretudo os países vencedores (Estados-Unidos, França, Grande-Bretanha e Itália) que conduzem os debates. O presidente americano impõe um programa idealista. A França deseja punir os alemães, que são obrigados a assinar o tratado de Versalhes a 28 de junho de 1919. Neste tratado, a Alemanha reconhece a sua responsabilidade na guerra, perde as suas colónias, reduz o seu poder militar e aceita pagar uma indemnização. As suas fronteiras são redefinidas, assim como a de outros países saídos da divisão do império austro-húngaro e otomano.

Os Estados-Unidos, os grandes vencedores da guerra

Com o fim da guerra é hora de fazer o balanço dos prejuízos. Do ponto de vista humano, o balanço é trágico: cerca de 9 milhões de mortos, 20 milhões de feridos, dos quais 6 milhões de inválidos. As zonas da frente estão destruídas e precisam de ser reconstruídas. As fábricas estão destruídas, os campos estão devastados pelos obuses e algumas cidades foram arrasadas pelos bombardeamentos. Os países mais atingidos pela guerra precisam de dinheiro para se reerguerem, mas também para pagarem o empréstimo aos Estados-Unidos que lhes forneceram material de guerra.

A Europa que no plano económico era o continente mais poderoso, cede o seu lugar aos Estado-Unidos.

11 Um grande dia: 11 de novembro de 1918

O armistício assinala o fim da primeira guerra mundial, que começou a 1 de agosto de 1914. Assinado por todos os beligerantes era assim suspensa a guerra e confirmada a vitória dos Aliados (Franceses, ingleses e americanos) sob a Alemanha.

Pierre Sellier, o corneteiro que tocou o primeiro cessar-fogo do armistício em 1918.

11 de novembro: um encontro há muito aguardado

São 11 horas do dia 11 de novembro. Todos os sinos tocam por anunciar o fim da guerra. Numa carruagem restaurante de um comboio estacionado na floresta de Compiègne, na Picardia, entre as 5h12 e 5h20, os generais alemães reuniram-se com os Aliados para assinarem uma convenção de paz, o armistício.

Principais causas do armistício

Nos três dias que precedem a assinatura do armistício, Aliados e alemães negoceiam um contrato humilhante para os derrotados. Estipula, entre outras coisas, o cessar-fogo imediato, a entrega por parte dos alemães de todo o material de guerra, da sua aviação e frota de guerra, a evacuação imediata dos territórios invadidos (Bélgica, França, Luxemburgo, Alsácia-Lorena) e a margem esquerda do Rhin (na Alemanha).

Consequências felizes e desastrosas do armistício

Devido ao seu carater inédito e atroz, a Grande Guerra suscita na Europa uma vaga de esperança e de pacifismo: todos desejam evitar que este tipo de conflito se repita.

Em 1919, a Sociedade das Nações (antepassada da ONU) é criada para desanuviar as relações internacionais e privilegiar as relações de paz. Mas as cláusulas do armistício são muito duras para a Alemanha enfraquecida poder suportar. A crise económica e o crash da bolsa em 1929 abrem a porta a inúmeras contestações, onde se destaca o movimento nacional-socialista, ou movimento nazi.

12 As vitimas deste terrível conflito

Após o fim da guerra, os países que nela participaram reconstroem-se, as famílias fazem o seu luto e os soldados sobreviventes guardarão para sempre os horrores vividos na guerra.

Um balanço terrível

Chegou a hora de se fazer o balanço. As zonas onde estavam situadas as frentes da guerra estão devastadas. Tudo está para reconstruir. Humanamente, o balanço é dramático: cerca de 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos, dos quais 6 milhões estão inválidos. As populações civis contam com cerca de 4 milhões de viúvas e 8 milhões de órfãos.

 

Rostos desfigurados

De entre os soldados que sobreviveram à guerra, muitos regressam da frente com feridas graves. Alguns têm pedaços de obuses no corpo, outros estão amputados e muitos têm o rosto desfigurado. Para ajudar estes soldados a terem uma vida aceitável, os cirurgiões desenvolvem máscaras e próteses faciais adaptadas, fazendo assim a cirurgia reconstrutora evoluir.

O choque psicológico

O regresso à vida normal é muito difícil para os homens que regressam da frente, mesmo não tendo sido feridos. Com efeito, a guerra foi um grande choque psicológico para todos os combatentes e que agora sentem dificuldade em lidar com as perdas e com os horrores vividos durante a guerra. Para melhor suportar o sofrimento e partilhar recordações dolorosas, os ex-combatentes reúnem-se em associações.

Monumentos para os mortos

Nos anos 1920, por todo o lado são construídos monumentos de homenagem aos soldados mortos em combate. Em França, o sacrifício dos soldados é simbolizado pela flor centáurea azul e na Inglaterra por uma papoila.

Quem é o soldado desconhecido?

Se já foste a Paris, aos Campos Elísios, por baixo do Arco do Triunfo, viste provavelmente o túmulo do soldado desconhecido. Após a guerra, alguns corpos de soldados mortos estavam de tal forma irreconhecíveis que não puderam ser identificados. É o caso do soldado desconhecido: não se sabe o seu nome, mas foi enterrado, por baixo do Arco do Triunfo, para representar todos os soldados mortos pela França entre 1914 e 1918. Todos os dias, às 18h30, desde 1923, que antigos combatentes vêm reavivar a chama que se encontra no seu túmulo.

 Em Londres, um soldado desconhecido está enterrado na Abadia de Westminster.

E hoje, o que é que resta da guerra?

Faz este ano cem anos que começou a guerra e o ultimo combatente, um soldado inglês, faleceu em 2011. Não há mais ninguém para contar esta história. Para que nos recordemos destes acontecimentos, a história recorda os fatos, tira-os do esquecimento para que todos possamos refletir e aprender com as situações do passado.